domingo, 20 de junho de 2010

Poluição sonora e a agressão ambiental


A poluição sonora é um dos tipos de poluição mais subestimados, e, no entanto, é um dos mais danosos. Ela acontece quando o ruído, que é um som desagradável ou indesejável, perturba um ambiente natural de tranquilidade.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o limite tolerável ao ouvido humano é de 65 decibéis, o que equivale a uma conversa alta. Acima disso, sofre-se estresse, e acima de 85 decibéis, como o ruído de um cortador de grama, há risco de comprometimento auditivo.

Para estipular o risco da poluição sonora há dois fatores essenciais: o nível do ruído e o tempo de exposição.

Com o crescimento das grandes cidades, o trânsito está em primeiro lugar nas reclamações por barulho. Também entram na lista os cultos religiosos, bares e casas noturnas, carros de som, aeroportos, indústrias,eletrodomésticos e o ambiente de trabalho.

Além de prejudicar a saúde humana, a poluição sonora também causa danos à outros indivíduos do meio ambiente. “Muitas espécies de animais possuem sensibilidade auditiva suficiente para ter vantagem nos ambientes mais silenciosos; e sua audição esta cada vez mais comprometida pelo barulho”, disse à BBC o cientista Jesse Barber, da Universidade do Estado do Colorado.

Há amparo judicial para aqueles que querem combater a poluição sonora. Ela enquadra-se como crime ambiental, com base no artigo 54 da Lei de Crimes ambientais. Há também a Lei 7.347/85, para garantia do direito ao sossego público, e em 1990 o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) estabeleceu a Resolução 002, que instituiu o Programa Nacional de Educação e Controle da Poluição Sonora.


A poluição sonora e o trabalhador industrial

Os trabalhadores das indústrias são um dos principais afetados com a poluição sonora. Segundo o fonoaudiólogo especialista em audiologia ocupacional João Ney, coordenador do setor de audiologia da Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos (APADA) de Niterói, em ambientes de trabalho com ruído acima de 85 decibéis é obrigatório o uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI).

Há dois tipos de equipamento de proteção individual, o Plug e o tipo concha. Os dois não são muito aceitos pois são considerados desconfortáveis pelos trabalhadores. Os protetores também são de tamanhos universais, o que dificulta a adaptação. Há um terceiro tipo, feito sob medida, mas não é usado porque o par não sai por menos de 60 reais, enquanto o plug sai em média R$3,50.

De acordo com João Ney, a fiscalização nas indústrias tem aumentado. “Hoje em dia a vigilância nessa área é grande. De um tempo para cá eles tem respeitado bastante isso. Mas os próprios trabalhadores não querem usar o protetor.”

Mesmo com a perda das primeiras áreas lesadas pela Perda Auditiva Induzida por Ruído(PAIR) ainda escuta-se o som de conversas, e por isso geralmente a constatação do problema é demorada. Os primeiros sons perdidos são os sons agudos, como o canto dos passarinhos. “Quando eles (os trabalhadores) vão detectar o problema, já perderam 40% da audição”, disse João Ney.

As profissões mais afetadas

Além dos trabalhadores industriais, há algumas profissões em que o s seus profissionais também são especialmente afetados pela poluição sonora. Para o fonoaudiólogo João Ney, são os motoristas de ônibus e os guardas de trânsito.

“Todos (os motoristas de ônibus) tem problema auditivo. Deveria haver uma legislação só para eles, já que não podem usar o equipamento de proteção individual, porque tem que ouvir os sinais das paradas e das buzinas.”

O operador de Trânsito da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) Jorge da Silva, trabalha há dois na Companhia e tem que fazer o exame de audiologia de seis em seis meses.

Ele nunca teve problema auditivo, mas sofre com o estresse causado pelo barulho. “Já chego em casa irritado”, afirma.

Segundo João Ney, além dos problemas auditivos, o ruído também causa estresse, alterações metabólicas, insônia, problemas cardíacos, aumento da pressão arterial e até problemas ósseos, já que o ruído produz vibrações nos ossos.


Os danos à natureza

Na natureza, com exceção das trovoadas, das grandes cachoeiras e das explosões vulcânicas, poucos ruídos atingem 85 decibéis.

De acordo com uma pesquisa publicada no jornal Trends in Ecology and Evolution, a poluição sonora está se tornando a principal ameaça ao bem-estar dos animais selvagens.

Segunda a pesquisa, várias espécies de pássaros que se comunicam pelo som evitam áreas de barulho, como em torno de rodovias. A reprodução de espécies que dependem da comunicação sonora também está sendo prejudicada.

Na Amazônia, insetos terrestres que caçam usando o som também evitam áreas em que foram construídas estradas.

Um artigo publicado na BBC revela que o barulho provocado nos oceanos por navios comerciais e sonares militares está ameaçando cada vez mais a sobrevivência de baleias e golfinhos.

Para a Organização Mundial de Saúde, a poluição sonora é uma das três prioridades ecológicas da próxima década.







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