terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

"Lembrar é Resistir"


Aproveitando minha estadia em São Paulo, hoje fui conhecer o Museu do Imaginário do Povo Brasileiro, uma restauração do antigo prédio do Departamento de Ordem Política e Social(DOPS).Para quem não conhece, o DOPS foi criado em 1924 e serviu como instrumento de repressão política(leia-se,torturas e assassinatos) por quase 60 anos,até sua extinção em 1983.No Estado Novo do Getúlio estavam em sua lista negra não só os "subversivos", como os italianos e japoneses, vistos como "súditos do Eixo".

Foram restauradas as 4 celas e o corredor de sol,onde era permitido o acesso 1 vez por mês. Na primeira cela, frases na parede de ex-presos de como era a vida por lá. Havia em média 20 presos por cela, por vezes chegando a 30 ou 40. O banheiro(sem porta,apenas uma continuação da cela) tinha apenas um buraco na parede por onde saia uma água fria e uma "privada" dessas que ficam junto ao chão e a pessoa tem que agachar. Na segunda cela, deixaram-na sem nada, escura e fechada(as portas são as mesmas,pesadas e com aquela abertura para passar os pratos), apenas com uma projeção onde aparecem as histórias de alguns presos, fotos, etc. Na terceira, reconstituíram o ambiente da cela, então tem alguns colchonetes no chão, um varalzinho com toalhas penduradas,e ex presos marcaram as paredes com os nomes que se lembravam de quem esteve por lá, marcar as paredes era comum nos presídios, e uma das marcas que posteriromente ficou conhecida foi "Aqui estive,J. B. Monteiro Lobato". Ele foi preso durante as campanhas do "O Petróleo é Nosso!". E, na última cela, fones de ouvido para escutar depoimentos de ex-presos e um cravo vermelho no meio, que após escutar os depoimentos descobri o porquê. Durante um Natal, uma das presas recebeu cravos vermelhos e os distribui entre suas companheiras, e ela diz que esse foi um momento de grande emoção, porque elas viram que ainda existia uma natureza que respirava do lado de fora. Há também uma linha cronológica no salão de abertura, e uma sala com fotos das ex-intalações do DOPS, onde ficavam os arquivos, a parte administrativa.

Tem que ter estômago. Apesar de passados alguns anos e de agora estar um prédio bonito,limpo e reformado, não há como não se emocionar estando entre aquelas paredes, que guardam as dores e humilhações de centenas de pessoas que passaram por lá.

Muitos questionam por que manter e ainda expor essa face tão asquerosa e ainda dolorida para muitos da nossa história brasileira. Eu considero importante por dois motivos: pressionar as autoridades a abrirem os arquivos da ditadura (todos tem direito à verdade e talvez alguma justiça, principalmente as famílias das vítimas) e, lembrar mesmo, como diz o slogan do museu "Lembrar é Resistir", não só resistir, como impedir que nunca mais aconteça.






PS: para quem quiser visitar, abre de terça a domingo,das 10 as 17 horas,Largo General Osório,66. Grátis. É só descer na estação da Luz, fica bem do lado, e perguntar pelo LARGO General Osório,e não pela rua General Osório, se não quiser ir parar numas ruas bem esquisitas.